08 dezembro 2010

Espertina

São 06:15 da manhã e eu estou a trabalhar. Aguardo para dar OK a uma equipa de trabalho e os meus olhos pesam-me horrores.
Podia estar fula da minha vida, pois hoje é véspera de feriado, tive uma apresentação oral na faculdade, estou feliz e organizada e os meus amigos, a esta hora, devem estar no auge de uma noite memorável e eu, estou por aqui, a fazer pela vida, porque o meu patrão precisa e ele não me tem falhado quando dele preciso.
Tenho muitos defeitos, mas sei que tenho uma caracteristica,ou qualidade quem sabe, que me tem valido de muito nesta vida: sou leal, nem sempre fiel, mas sempre, sempre leal.
Há quem diga que a vida nos dá de volta aquilo que damos aos outros e eu começo a acreditar, nesse tal karma ou dharma, ou lá o que é, porque a bem da verdade, a vida tem-me brindado com pessoas fantásticas que cruzam a minha vida e marcam o meu caminho. Tem-me oferecido oportunidades extraordinárias para aprender, errar, desfrutar, começar, amar, brincar, crescer...Tem-me dado saúde, a mim e aos meus.
Na verdade, o que eu acho mesmo, é que a vida me tem dado um "olhar" bonito para ver tudo aquilo que os meus olhos alcançam e que o meu coração sente e tem me dado sabedoria para ter curiosidade suficiente para querer ver para além de todos os limites impostos por o que esses mesmos olhos vêem e esse mesmo coração sente. E sou,nesta fase da minha vida, um ser humano muito grato por isso. Agradeço-o à minha querida mãe, à minha valente avó, ao meu doce irmão,ao meu pai desligado, mas nem por isso ausente, aos meus insubstituiveis amigos e a uma pessoa muito especial que entrou na minha vida numa idade muito tenra e que me foi ajudando a ser a mulher que sou hoje, mesmo que nem sempre se orgulhe, mesmo que a paz nem sempre reine entre nós, eu sei, cá do fundo do meu coração, que no final de tudo, ela vai saber e sentir que a amo de uma forma que jamais conseguirei explicar.É um amor de uma ternura imensa, de um respeito enorme e com uma força capaz de mover o mundo, se assim for necessário.
Começo a sair da sua aba e esse foi um processo longo e doloroso, talvez ela nem faça ideia, mas custou-me tanto, mas tanto, "libertar-me" da sua protecção, da segurança que me oferecia, dos desafios que me colocava dia após dia, do carinho e mimo a que sempre me habituou. Não sei se um dia ela me perdoará, mas a verdade é que sinto, também cá de dentro, que não há nada a perdoar. Apenas sigo o ciclo do rio da minha vida e onde quer que vá parar, quero-a lá, sempre. Foi assim que nos encontramos, um dia,portanto, agora, não faz sentido que seja de outra maneira.
A vida é curta demais para deixarmos fugir o que amamos. E hoje eu sinto que está na altura de deixar o meu rio seguir, respeitando apenas os elementos que o movem. O destino? Não sei. Nem quero saber mais.
Só sei que correrei o risco. Talvez seja a nossa batalha final e poderemos ganhar ou perder, tudo.
Só peço agora à vida, que ela não me falhe e não me leve este bem tão precioso. Eu não quero que ele seja o preço que terei de pagar. É alto demais...
Posto isto, o que eu queria mesmo era chegar a casa e ter à minha espera a rapariga dos olhos ardentes, queria-a na minha cama, bem quente, e sussurra-lhe baixinho que estou a gostar do que ela me está a fazer sentir e pedir, assim a meio como quem não quer a coisa, para ela ficar...porque eu quero mesmo que ela fique e marque o meu caminho, seguindo o ciclo do meu rio.
Resta-me esperar até que volte. Agora, curtimos as saudades, que a bem da verdade, por vezes, também são boas de se sentir.
Está na hora. E o OK vai ser dado.

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